LEILA VIEIRA
- Vitoria Sampaio
- 10 de out. de 2017
- 3 min de leitura

No dia 06 novembro 1981, chegava ao mundo uma criança que seria marcada por uma história de vida recheada de adversidades, mas, no ápice da própria história, tornou-se uma mulher vitoriosa. O nome dela é Leila Vieira.
Com uma infância precária, porém feliz, ela morou durante algum tempo com a avó no Bairro de São Miguel e também com a família adotiva na pequena e pacata cidade de Poá. Contam que quando ela completou dois anos de idade, por motivos pessoais e nunca declarados, sua mãe biológica a deixou na casa de uma conhecida, pedindo para que abrigasse a criança por um tempo, enquanto procuraria trabalho, mas, ela não retornou, apenas realizava visitas.
Apesar da adoção nunca ter sido legalizada no papel, Leila crescia bem no lar da nova família, apesar de sentir muita saudade da mãe e do irmão, entregou o coração para os novos familiares. Ela se sentia privilegiada por ter uma casa e uma família. Quando completou 5 anos de idade, a mãe biológica, com saudades, decidiu retornar e levar a filha consigo. Leila completou 7 anos de idade e retornou para o lar da mesma família que a havia recebido aos dois anos.
Com uma constante saudades do irmão e da mãe, ela sentia no coração uma tristeza, sentia que ela vivia muitas oportunidades que o irmão nunca pode ter. Com o pai biológico preso no Carindiru por quinze anos, os pais adotivos a incentivavam escrever cartas para o pai, prestando suas condolências e forças. Eles a ensinaram a respeitar o próximo e compreender que as pessoas sempre podiam melhorar.
No decorrer dos anos, ela recebia algumas visitas da mãe e do irmão. A infância passou e Leila tornou-se adolescente. Ainda vivendo distante do irmão, ela acompanhava a dura realidade dele em situações de vulnerabilidade social, por motivos como alimento, ele se envolveu com drogas desde cedo e passou por uma internação na Fundação Casa.
O sentimento de que não era justo ela ter tantas oportunidades e ele não, apenas crescia no coração da adolescente. O irmão de Leila tinha paixão pelo pai. Apesar de viver 15 anos afastado dele, acreditava que ao ser liberto do presídio, a família voltaria a ser unida e feliz. Quando o pai dos meninos foi absolvido, ele passou a morar com o patriarca.
Leila sempre visitava o irmão. Era sábado, ano de 1996, ela decidiu visitar o irmão, era um sábado, eles conversaram bastante e foi entregada a ela, uma carta escrita de próprio punho pelo irmão. Nela continha um pedido muito especial: perdão à mãe por tê-la deixado sozinha para morar com o pai. Naquela altura do campeonato, o pai deles havia criado uma enorme dívida com o tráfico, apesar da mobilização da família biológica juntar o dinheiro para quitar os devedores, isso não foi possível. Ele fugiu.
Depois de horas conversando, o irmão de Leila pediu para que ela retornasse no próximo sábado para visitá-lo novamente. Ela respondeu que iria no sábado, quando foi surpreendida com uma afirmação, “sábado eu não estarei mais vivo”.
Na sexta-feira, ela recebeu uma ligação, uma notícia triste, avassaladora e fúnebre. O irmão havia sido assassinado a tiros.
E mais uma vez o sentimento de tristeza assolou o coração de Leila. Ela sentiu que havia esquecido o tempo todo do irmão, porque ele não teve as mesmas oportunidades que ela.
Quando completou 16 anos de idade, Leila conheceu o marido, Sandro. Ele realizava trabalho voluntário com os meninos de alto risco da Fundação Casa, e ela com as meninas de liberdade assistida da Fundação, ela acreditava que aquelas garotas tinham histórias parecidas com a dela.
O relacionamento foi crescendo e se fortificando, momento em que ela descobriu que estava grávida. Aos vinte anos ela seria mãe. Brenda nasceu na sala de pré-parto, mais uma vez, Leila foi forte.
Durante os três primeiros meses de pós-parto, Leila foi acolhida pela mãe adotiva, quem ajudou com os cuidados à Brenda.
Anos depois, a família cresceu, no dia 11 de abril de 2007, nasceu Breno, o irmão caçula de Brenda. Atualmente, Leila e Sandro atuam juntos em uma causa social. Eles fundaram a ONG Social Skate, laica e sem partido político, eles atendem 230 crianças em Poá, sabem o nome de cada um de seus alunos.
A cada manhã, aquela criança que se tornou uma forte mulher pensa no irmão e dedica o seu trabalho no voluntariado a ele. Leila dedica o trabalho ao irmão ao dar oportunidades para crianças e adolescentes que, assim como ele, precisam de oportunidades.
Veja a entrevista na íntegra com a pedagoga e fundadora da ONG Social Skate, Leila Vieira:
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